Por ANDRÉ AZENHA
Diva, estrela, ícone cultural, ativista humanitária. Sinônimo de elegância e figurinos imortalizados. Antes de tudo: atriz. A belga nascida em 4 de maio de 1929 na cidade de Bruxelas, Audrey Kathleen Hepburn-Ruston, é uma das atrizes mais influentes da história do cinema.
Nos deixou em 20 de janeiro de 1993, aos 63 anos, vítima de câncer, em Tolochenaz, Suíça. Seu legado é inestimável para a sétima arte e a moda. Muito lembrada por sua postura ética, encantadora, de beleza fina que fugia ao apelo sensual de Marilyn Monroe, Kim Novak ou Claudia Cardinale, possui uma série de feitos artísticos. Talvez o principal seja o fato de ser a quinta artista, terceira mulher, a arrebatar as quatro principais premiações do entretenimento dos EUA, o EGOT: acrônimo de Emmy, Grammy, Oscar e Tony. Não é pouca coisa.
Para o American Film Institute, é a terceira maior lenda feminina do cinema; À frente dela estão as insuperáveis Katharine Hepburn e Bette Davis.
Para quem ainda não conhece a obra de Audrey aqui vão cinco filmes para iniciar essa relação. Todos fáceis de encontrar em DVD ou streaming. São pérolas imperdíveis de um cinema que deixa saudade: por cenas e diálogos eternizados, talentosos e que fazem a alegria do público há décadas. Essa seleção não visa ser definitiva e se lembrar de outro entre tantos trabalhos marcantes da artista, deixe seu comentário.
A Princesa e o Plebeu (1953)

O filme alçou Audrey Hepburn à estrela de Hollywood. O papel de princesa que decide passear anonimamente em Roma e acaba envolvida com um repórter (Gregory Peck), rendeu à atriz o Globo de Ouro, o Bafta e o Oscar – o longa ainda levou roteiro original e figurino PB na premiação. O diretor William Wyler, que desejava Jean Simmons para o projeto, se rendeu à novata Audrey. Ela e Peck nos levam a uma viagem pelo cotidiano da capital italiana. Tantas outras produções, inclusive a refilmagem televisiva de 1987 e Um Lugar Chamado Notting Hill (que homenageia o clássico repetindo a coletiva de imprensa), imitariam a fórmula. No entanto, a química do casal, as cenas memoráveis e a ambientação envolvente – Roma é um personagem à parte – são insuperáveis.
Cinderela em Paris (1957)

Famoso fotógrafo de modas, Dick Avery (Fred Astaire), trabalha para a conceituada revista feminina Quality Magazine. Ele precisa cumprir as determinações da editora Maggie Prescott (Kay Thompson), insatisfeita com os últimos resultados da publicação e tenta encontrar um “novo rosto”. Dick o acha em Jo Stockton (Audrey Hepburn), balconista de uma livraria no Greenwich Village onde um ensaio fotográfico aconteceu pouco tempo antes. Após certa resistência, Maggie aceita Jo como a modelo que irá à Paris para fotografar e ser o símbolo da Quality. Jo só concorda pois lá poderá conhecer seu ídolo intelectual Emile Flostre (Michel Auclair). Entretanto, ao chegarem em Paris as coisas não correm como o planejado. Bobinho em princípio, o filme vale pelas presenças imensuráveis de Audrey e o grande Fred Astaire e a criatividade do diretor Stanley Donen, que investe em divisões de tela, grafismos e desenhos em meio às cenas. E também por retratar a relação de amor e ódio entre EUA e França. Teve indicações ao Oscar para Roteiro, Figurino, Direção de Arte e Fotografia.
Bonequinha de Luxo (1961)

Em 2011, Julie Andrews e a Sociedade de Cinema do Lincoln Center de Nova York promoveram um baile de gala para comemorar os 50 anos de Bonequinha de Luxo, protagonizado por Audrey Hepburn e George Peppard em 1961. Julie foi casada com Blake Ewards, que dirigiu o filme com seu talento afiado para o humor. O cineasta faleceu em 2010. A trama se passa em Nova York e tem cenas filmadas na famosa loja de joias Tiffany. Apresenta Audrey Hepburn cantando Moon River. A trilha sonora é de Henry Mancini. Ambas foram premiadas no Oscar. O roteiro foi baseado em livro de Truman Capote, que deu piti por que preferia Marilyn Monroe para o papel principal. Mickey Rooney interpreta o japonês Mr. Yunioshi (num reprovável yellow face), e o espanhol Jose Luis de Villalonga faz um brasileiro, em tempos que a questão racial no cinema começava a ser debatida. No entanto, as imagens de Audrey são usadas até hoje como exemplos de elegância e alta moda.
Infâmia (1961)

Dirigido por William Wyler, acompanha a história das amigas Karen Wright (Hepburn) e Martha Dobie (Shirley MacLaine). Juntas, elas administram um colégio interno só para meninas. Depois de ser punida pelas professoras por contar mentiras, uma das alunas reclama com sua avó e inventa que Martha tem ciúme de Karen, que é noiva do médico Joe Cardin (James Garner). A senhora fica horrorizada, tira a menina da escola e espalha o boato. A partir daí as duas mulheres começam uma batalha contra as acusações e suas consequências. Baseado na peça teatral homônima de Lillian Hellman, que roteirizou sua obra para o cinema, é um filme a frente de sua época e reúne duas grandes atrizes que hipnotizam o espectador – atenção para a expressão e o olhar de Audrey ao final da projeção. Um debate sobre intolerância que, por incrível que pareça, segue atual em diversas partes do mundo. Teve cinco indicações ao Oscar: Melhor Atriz coadjuvante (Fay Bainter), Melhor Fotografia Preto e Branca, Figurino, Direção de Arte e Som.
Minha Bela Dama (1964)

Versão cinematográfica para o espetáculo homônimo que fez muito sucesso na Broadway com Rex Harrison e a novata Julie Andrews que, por sua vez, era inspirado na lenda grega de Pigmalião e baseado na peça de Bernard Shaw. O filme ganhou oito estatuetas no Oscar: Filme. Direção (George Cukor), Ator (Rex Harrison), Fotografia Colorida, Figurino, Som, Direção de arte em cores e Trilha sonora adaptada. E é muito lembrado pelos bastidores. Jack Warner, o dono do estúdio, não queria Harrison para o papel de Higgis. Mas cedeu. E não quis Julie Andrews por considerá-la jovem demais para ser a estrela do filme. Preferiu apostar na famosa Audrey, que foi dublada nas canções por Marni Nixon. Ironicamente no mesmo ano Julie protagonizou Mary Poppins, pelo qual levou o Oscar e se transformou em estrela. Audrey sequer foi indicada, mas marcou presença na cerimônia e se comportou como uma verdadeira lady. Depois, ela e Julie se tornariam amigas. Apesar de tudo, o longa é um clássico, lembrado com carinho pelos fãs e traz a beleza e o charme de Audrey no papel da florista que toma aulas de linguística para se tornar dama da alta sociedade.

ANDRÉ AZENHA é crítico de cinema, jornalista, produtor cultural, pesquisador, curador, assessor de imprensa. Mestre em Audiovisual pela Universidade Anhembi Morumbi. Bacharel em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Católica de Santos. Editor dos sites Histórias do Cinema e CineZen Cultural, criado em 2009. Colaborou com críticas semanais nos jornais Expresso Popular e quinzenais no jornal A Tribuna. Colabora semanalmente com a Rádio Santos FM. Escreveu entre 2012 e 2017 para o blog Espaço de Cinema no G1 Santos. Criador e coordenador do Santos Film Fest – Festival Internacional de Filmes de Santos (maior festival de cinema do litoral paulista), CulturalMente Santista – Fórum Cultural de Santos, Nerd Cine Fest e PalafitaCon. Autor do livro Histórias: Batman e Superman no Cinema. Realizou 102 sessões de um projeto de cinema itinerante em bairros com situação de vulnerabilidade. Escreveu sobre cinema para sites, jornais e revistas de Santos, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Limeira e Maceió. Ministra cursos, oficinas a palestras sobre história do cinema, crítica de cinema e jornalismo cultural em locais como Sesc Santos, Sesc Belenzinho, Instituto HQ (São Paulo), ETEC Aristóteles Ferreira, Open House Idiomas, UniSantos, Unimonte, Unisanta, Liceu Santista, entre outros. Participou dos livros 100 filmes essenciais do cinema brasileiro e 100 documentários brasileiros, editados pela Abraccine – Associação Brasileira dos Críticos de Cinema. Organizou e produziu exposições sobre Sonia Braga, Julia Andrews, Batman, Superman, Star Wars, cinema infantil.