SIMONAL: NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI (2009) resgata a trajetória de um dos maiores artistas brasileiros

Rever Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei (2009) diz muito sobre o poder do cinema. Como certos filmes, nesse caso o documentário dirigido por Micael Langer, Calvito Leral e Cláudio Manoel, retratam determinada época e são capazes de gerar reflexões sobre certas situações que vão e voltam em nosso cotidiano.  

“Simonal pra mim é o Rio de Janeiro. Quem não viu o Rio de Janeiro dos anos 50 e 60, não sabe o que perdeu. Quem não viu Garrincha jogar, não sabe o que perdeu. Quem não viu Simonal cantar, não sabe o que perdeu”, dispara outra lenda, o humorista Chico Anysio. O longa lançado em 2009 reúne nomes marcantes, que transformaram a história da cultura no país. É uma viagem no tempo e, ainda assim, diz muito sobre o hoje.

Assisti-lo agora reforça diferentes sensações.  

A nostalgia, de uma época inspirada que teve, além de Chico e Wilson, o incansável Luís Carlos Miele, falecido em 2015.

Simonal, Anysio e Miele. Três sujeitos que deram, cada um à sua maneira, contribuições para que o “show business”, se assim o podemos chamar, crescesse em solo brasileiro.

Simonal – Ninguém Sabe o Duro Que Dei no canal Curta!

Outro sentimento que vem à tona, é aquele tão presente nos últimos anos do “ame ou odeie”, do “8 ou 80”, do “eu ou eles”.

No auge da carreira Simonal colocava o público na palma da mão. Ainda não eram costumeiros os shows em ginásios lotados. Para ele, no entanto, se apresentar em frente a 30 mil, 40 mil ou 50 mil pessoas soava algo natural. O público entoava canções como Mamãe Passou Açúcar em Mim, Meu Limão, Meu Limoeiro, e a versão “patropi” de País Tropical.

Não era fluente em inglês, mas era capaz de cantar no idioma como se fosse. Dividiu o palco com a diva Sarah Vaughan em memorável registro feito pela extinta TV Tupi.

Tinha carisma, era “boa pinta” como diz o ex-jogador Pelé. Saía com lindas mulheres e andava em “carrões”. Foi garoto propaganda da Shell, então a principal empresa do ramo petrolífero. Num país racista como o Brasil, o sucesso de um negro em plena ditadura militar incomodava. Incômodo velado. E que, dizem, contribuiu para o boicote geral sofrido pelo artista. Pela direita e pela esquerda.

Trailer Simonal - Ninguém sabe o duro que dei - YouTube

O filme traz depoimentos de pessoas que viveram aqueles tempos. Carlos Imperial, Nelson Motta, Toni Tornado e seus filhos, Wilson Simoninha e Max de Castro, que seguiram os passos do pai na música.

Em sua primeira metade, a obra mostra aos espectador a força e o talento do cantor, do entertainer. Depois, a polêmica que o cercou e posteriormente assombrou até a morte: a de que teria mandado membros do DOPS torturarem o contador que lhe teria aplicado um desfalque financeiro.  

Os cineastas têm o mérito de não ignorar o outro personagem dessa história: Raphael Viviani. O contabilista aparece por que os diretores contrataram um detetive particular para encontra-lo.  E dá sua versão pública da situação.

O fato é que, a possibilidade de ter qualquer chance de ligação com membros da ditadura militar – podendo, segundo rumores, ter sido “dedo duro” – fizeram Simonal ser boicotado, ignorado. Casas noturnas que desejavam contratá-lo eram ameaçadas por outros artistas. O jornal Pasquim não poupou críticas, tal qual apontou o dedo para Elis Regina, quando ela cantou para militares (fato mostrado no filme Elis). Chico Anysio desafia alguém daquela época, ou filho, ou parente, a dizer se foi delatado pelo colega. Simonal e Elis foram injustiçados? Algo a ser refletido, ainda mais no mundo atual onde a intolerância parece reinar em todos os lados e reputações são destruídas sem a mínima apuração.

Nesse sentido, talvez o momento que mais emocione e possa servir de aprendizado é aquele em que, os dois filhos, Wilson Simoninha e Max de Castro, falam em tom emocionado sobre não guardarem rancor de ninguém e buscarem perpetuar a obra do pai.

Pelo registro histórico e por despertar tantas emoções a obra, com justiça, levou quatro categorias do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (inclusive melhor documentário) e dois prêmios no Festival de Paulínia (pelos júris oficial e popular).

Assista:

Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei (DVD) no Submarino.com
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