Por ANDRÉ AZENHA
Quando faleceu em 2009, Anselmo Duarte era o único cineasta cujo currículo incluía a única Palma de Ouro conseguida por um filme brasileiro no Festival de Cannes, o mais importante do gênero no planeta. Continua assim até hoje. A cobiçada premiação foi por O Pagador de Promessas, em 1962.
Nascido em Salto, município próximo a Itu, no interior de São Paulo, num dia 21 de abril de 1920, Anselmo Duarte Bento mudou-se para o Rio nos anos 40. Atuou em Inconfidência Mineira, de Carmen Santos, em que teve pequena participação, mas virou astro ao atuar em Querida Suzana, dirigido por Alberto Pieralisi.
Marcou presença em importantes momentos da história do cinema brasileiro. Já considerado um galã, fez parte da Atlântida carioca (Carnaval no Fogo, Aviso aos Navegantes) e da Vera Cruz, em São Paulo (Tico Tico no Fubá, Apassionata, Veneno).

Trabalhou como co-produtor e ator em Depois Eu Conto (de José Carlos Burle), mas sonhava mesmo ser o criador de obras cinematográficas. E foi com Watson Macedo que aprendeu bastante, escrevendo argumentos e roteiros. Dirigiu o curta-metragem Fazendo Cinema, enquanto atuava nas filmagens de Arara Vermelha, de Tom Payne.
Foi casado com a estrela Ilka Soares entre 1949 e 1956, com quem teve dois filhos.
Sua estréia na direção se deu em 1957, na boa comédia Absolutamente Certo, estrelada por Dercy Gonçalves. Nessa produção, Anselmo demonstrou o talento na função, que seria confirmado cinco anos depois em seu segundo trabalho. Foi sucesso de público e bem recebido pela crítica.

“Em 1960, Anselmo estava na Europa. Fez um filme em Portugal, outro na Espanha. Cursou o IDHEC, em Paris, mas era uma escola de cinema acadêmica e só lhe serviu para aprender francês. Muito importante, era um homem sedutor, e um fenômeno de potência”, escreve o crítico Luiz Carlos Merten no Estadão. O jornalista assina a biografia do cineasta, O Homem da Palma de Ouro, parte da Coleção Aplauso da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Rubens Ewald Filho era o idealizador e coordenava o projeto. O livro está disponível para download gratuito no site da entidade.
Baseado na peça de Dias Gomes, O Pagador de Promessas (1962) não somente conseguiu a tão almejada Palma de ouro em Cannes, como foi o primeiro filme brasileiro finalista no Oscar de Filme em Língua Estrangeira e ganhou ainda prêmios nos Festivais de São Francisco e Cartagena. Curiosidade: na verdade o longa era uma co-produção portuguesa e teve duas versões rodadas ao mesmo tempo. A brasileira, protagonizada por Leonardo Villar, e a portuguesa, estrelada por Américo Coimbra. Foi a brasileira exibida em Cannes.

Rejeitado pelos integrantes do Cinema Novo (ver um galã ganhando prêmios e reconhecimento internacional era demais para a turma), realizou outra obra ambiciosa, Vereda da Salvação (1965, baseada em peça de Jorge de Andrade), que não teve a mesma repercussão de O Pagador de Promessas e acabou taxada de “comunista” pelo Itamaraty. Ainda assim, o filme foi selecionado para o Festival de Berlim.
Depois, Anselmo realizou produções comerciais irregulares e retomou a carreira de ator. Desde então, não conseguiu repetir o êxito das obras que lhe consagraram e voltou para Salto em 1987, onde viveu numa chácara, que serviu de refúgio para ele.
Se no Brasil por algum tempo Anselmo não teve o reconhecimento merecido, em Cannes jamais foi esquecido. Em 1971 foi membro do júri do festival e, em 1997, participou da 50ª edição do evento como convidado especial.
Nos deixou em 7 de novembro de 2009, aos 89 anos. O artista estava internado no Hospital das Clínicas, em São Paulo, desde o dia 28 de outubro, quando sofreu um terceiro acidente vascular cerebral. Vilar também lutava contra um câncer na bexiga, diagnosticado em agosto daquele ano.