Imperdível e gratuito | Adaptação audiovisual de O TEATRO E A PESTE reúne artistas de 11 países

A pandemia nos fez perceber, ou ao menos fez perceber para quem tem um mínimo de sensibilidade, a importância da arte. Arte no que nos diverte, entretém, nos tira do lugar comum, nos faz pensar, refletir e nos transforma em pessoas melhores. Quem manteve-se em isolamento social encontrou nela uma companheira, parceira, para momentos de solidão que poderiam ser muito mais angustiantes.

Por outro lado, artistas tentam manter suas atividades, mediante todas as dificuldades, principalmente pelo cancelamento de espetáculos cuja presença do público é parte integrante.

Há artistas que tentam resistir e dar uma resposta à pandemia. É o caso do alemão residente no Brasil desde 1992 Wolfgang Pannek. Codiretor da respeitada Taanteatro Companhia, ele encabeçou um projeto ambicioso entre março e julho deste ano: fazer uma leitura contemporânea de O Teatro e a Peste, ensaio do poeta e teatrólogo francês Antonin Artaud.

Mas não é “só” isso. A adaptação intitulada Antonin Artaud’s The Theatre and the Plague (O Teatro e a Peste de Antonin Artaud) é uma obra audiovisual que reuniu profissionais de 11 países, de cinco continentes, e rendeu 18 curtas-metragens e um longa, disponíveis gratuitamente na internet. Tudo sem patrocínio e realizado de maneira independente. “O contato foi estabelecido primeiro fazendo contato com colegas e amigos artistas e acadêmicos e segundo a partir de indicações dessas pessoas”, diz Wolfgang.

Em O Teatro e a Peste, o primeiro e hoje profético-icônico texto de seu livro mais conhecido, O Teatro e seu Duplo, originalmente apresentado como palestra em 6 de abril de 1933, na Sorbonne, Artaud desenvolve os fundamentos do Teatro da Crueldade, estabelecendo uma analogia entre a ruptura da ordem civilizacional provocada pela “peste” e as “paixões convulsivas” desencadeadas pela virulência de sua poética teatral transgressora.

O texto artaudiano foi dividido em oito segmentos distintos (por sua vez divididos em subsegmentos), cada um com enfoque temático específico. Cada artista colaborador/a aceitou o desafio de desenvolver uma dramaturgia audiovisual (e gravar o texto de Artaud em seu respectivo idioma), correspondente ao segmento a ser abordado. A única indicação de trabalho dada aos artistas consistia em realizar uma leitura cinematográfico do texto de Artaud à luz de suas experiências subjetivas em suas respectivas localizacões geográficas, e sob às condições da limitação de circulação e do distanciamento social em tempos de pandemia.

Desse processo gravado com câmeras digitais, telefones celulares ou IPads, resultou um conjunto de 18 filmes (cujas durações variam entre 4 e 11 minutos), e atualmente disponibilizados no site do projeto.

Essas narrativas cinematográficas serviram como acervo audiovisual e foram reeditadas para o longa-metragem Antonin Artaud’s The Theatre and the Plague, de 62 minutos e 11 idiomas legendados em inglês). O diretor promete para, em breve, a versão com legendas em português. O longa tem material de 16 dos 18 curtas. “Foi uma questão de espaço. Havia muito mais material audiovisual do que o necessário para cobrir toda extensão do texto de Artaud. Para certos segementos de Texto tivemos 2,3 e 4 curtas. Tive de comprimir o material visual garantindo diversidade e ritmo”, explica o diretor.

O filme apresenta o texto de O Teatro e a Peste na íntegra, além de reunir pessoas, paisagens e sensibilidades que vão de São Paulo a Paris, de Brisbane a Garðabær, e de Maputo a Khon Kaen. Participam os artistas Florence de Mèredieu (França), Nabil Chahhed (Tunísia), Trausti Ólafsson (Islândia), Jorge Ndlozy (Moçambique), Wolfgang Pannek (Alemanha), Reha Bliss (Rússia), Candelaria Silvestro (Argentina), Nourit Masson-sékiné (França), Théophile Choquet (França), Or Kittikong (Tailândia), Jürgen Müller-Popken (Suíça), Insa Popken (Alemanha), Shane Pike (Austrália) e Maura Baiocchi (Brasil).

Passando a pandemia, os responsáveis pretendem realizar sessões presenciais da obra.

Confira o longa-metragem:

Wolfgang é diretor, dramaturgo, ator e produtor. Além de codiretor da Taanteatro Companhia, é MA em filosofia, literatura e psicologia. Doutorando em filosofia pela Academy of Fine Arts Leipzig. Autor e diretor de espetáculos como 1001 Platôs (2017), da trilogia cARTAUDgrafia (2015), Máquina Hamlet Fisted (2010), entre outros. Organizador de projetos internacionais como Ocupação Deleuze (2017), Ocupação Artaud (2016), Hans Thies Lehmann Brasil Tour (2010), Intercâmbio Cultural Matola-Brasil (2005), Artaud 100 Anos (1996), Mostra 95 Butoh e Teatro Pesquisa (1995).  Fez coreografia e atuou em Os Sertões do Teatro Oficina (2002 a 2004). Atuou na série fdp da HBO Brasil. Ao lado de Maura Baiocchi é coautor de diversos livros, entre os quais Taanteatro: teatro coreográfico de tensões (Azougue, Rio de Janeiro, 2007), Taanteatro: Rito de passagem (Transcultura, São Paulo, 2011), Taanteatro: MAE Mandala de Energia Corporal (Transcultura, São Paulo, 2013), Taanteatro: Forças & Formas (Transcultura, São Paulo, 2018).

Ficha técnica:

Edição e legendas: Bruna de Araujo (EUA).
Website: Mônica Cristina Bernardes.
Ideia, direção, desenho sonoro, edição final e produção:
Wolfgang Pannek (Alemanha/Brasil).

Wolfgang Pannek (Foto ilustrativa).
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