Por Prof. Celso Ronald
Não é fácil transformar em palavras o vazio que sinto no peito. Muitos podem pensar que: “não é pra tanto!” ou “que exagero!”.
Mas só posso pedir para que respeitem o meu sentimento e que talvez seja o sentimento de muitos outros ou, se não puderem respeitar, parem de ler esse texto agora!
Chadwick Boseman era mais que um ator, ele era de casa, era aquela pessoa que chega e você já fica contente e se sente bem. Lá nos anos de 1990, o crítico de cinema Rubens Ewald Filho, ao comentar quem poderia ganhar o Oscar daquele ano, mencionou Tom Hanks, e disse: “ele tem aquele jeito de quem é de casa…”. Na época fiquei pensando o que seria aquela sensação emanada por um ator: ser de casa. Anos se passaram e vim a saber o que era isso com o Chadwick.
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Um cidadão que havia passado por situações de racismo muito parecidas com as quais muitas pessoas negras, inclusive eu, já haviam passado. Um homem com um histórico de luta e superação diários, igual a tantos outros, isto é, tão parecido conosco.
Um ator que, nas telonas, enquanto enfrentava uma batalha pessoal contra um inimigo cruel, deu vida a vários personagens importantes como: Thurgood Marshall em Marshall – igualdade e justiça; Jackie Robinson em A história de uma lenda e, com certeza, o Rei T’Challa em Pantera Negra, um personagem que representou milhões de pessoas das mais diversas etnias. Sim, das mais diversas, pois o tema central do filme é o preconceito, o fato de pessoas serem subestimadas, por exemplo, apenas por possuírem a cor da pele mais escura, e nesse ponto, não podemos falar apenas do afrodescendente.
É difícil nos conformarmos com a partida de alguém que sentimos ser tão próximo da gente. Ele era de casa!
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Em tempos de pandemia e de violência exacerbada, em que se mata um cidadão algemado, caído ao chão com o joelho em seu pescoço, em que se mata outro com sete tiros nas costas, em que se mata manifestantes com tiros de fuzil, em que crianças são mortas vítimas de “balas perdidas” estando elas dentro ou fora de casa. Nós, mais do que nunca, precisamos de um herói com roupa a prova de balas, com um uniforme de pantera e que venha nos proteger do opressor ou da opressão. Que venha impedir que sejamos mortos, assassinados, exterminados. Impedir que sejamos arrebatados pela desesperança de dias melhores para todos.
Porém nosso herói também se foi levando um pouco das nossas esperanças, da nossa alegria, juntinho com ele: nesses tempos de pandemia e de mortes seletivas, nem mesmo nosso herói resistiu. Vazio…
Celso Ronald é Doutorando e Mestre em Comunicação Audiovisual pela Universidade Anhembi Morumbi. Especialista no Ensino de Língua Portuguesa e Literatura pela UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Pós-graduado em Gestão Pública pela UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo e Especialista em Direito de Família e Sucessões pelo Damásio Educacional. Possui graduação em Letras – Português e Inglês e Respectivas Literaturas pelo Centro Universitário FIEO (2003). Graduado em Direito pela Falc (2017), advogado e ex-membro da Comissão Especial de Liberdade Religiosa da OAB – Osasco/SP. Tem experiência no ensino de Língua Portuguesa, Inglesa, Espanhola e Francesa. Lecionou na Rede Pública de Ensino do Estado de São Paulo por 8 anos; na rede Municipal de Ensino Osasco por 10 anos; nas escolas de idiomas CCAA por 16 anos e Wizard por 8 anos. Está no nível intermediário do curso de Libras – Língua Brasileira de Sinais; Foi Docente de Língua Inglesa na Escola de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Anhembi Morumbi.
Veja também a entrevista concedida pelo Professor Celso Ronald: Representação da população negra na história do cinema